Meus amigos e alunos sabem da paixão que tenho pela minha Fender Stratocaster American Deluxe. De longe é a melhor guitarra que já tive e olha que já tive algumas…mas depois de 10 anos de uso intenso (2006-2016), precisei fazer algumas substituições de peças e aproveitei para customizá-la.
Fender Stratocaster American Deluxe 60th Anniversary
Minha Fender é uma American Deluxe de 60º Aniversário da marca, criada pelo brilhante Leo Fender em 1946, portanto minha guitarra foi fabricada em 2006, mesmo ano em que foi comprada. Este modelo veio com algumas inovações:
1- um potenciômetro de volume com switch do tipo push-in chamado de S-1 que, quando ativado, permite combinações de timbres das mais diversas, variando de acordo com a posição da chave seletora de captadores com misturas inusitadas entre eles.
2- Potenciômetro de tom 2 (meio e ponte) do tipo No-Load que funciona como um controle de tom normal entre o 0 e o 9, mas ao chegar ao 10 é como se ele não existisse no circuito.
3- Captadores SCN (Samarium Cobalt Noiseless) que são a terceira geração dos famosos e, de certa forma, controversos Noiseless e, segundo a própria Fender, possuem o timbre mais fiel aos single-coils sem o chiado característico.
4- Capacitor especial cerâmico 0,05mF.
Além disso, é importante dizer que a minha guitarra era uma SSS, ou seja, possuía três captadores single-coil (Single- Single- Single).
S-1
A combinação da chave seletora de captadores com o S-1 “levantado” não alterava o timbre da guitarra. A chave só fazia efeito quando “apertada” ou “abaixada”, criando timbres radicais com as seguintes combinações de acordo com a posição da chave seletora:
Posição 1: Captador da ponte em série com o captador do meio
Posição 2: Captador da ponte em paralelo com o capacitor especial e em série com o captador do meio
Posição 3: Captadores da ponte e braço em paralelo entre si e em série com o do meio
Posição 4: Captador do braço em paralelo com o capacitor especial e em série com o captador do meio
Posição 5: Captador do braço em série com o captador do meio
Como se pode ver, este sistema gera uma combinação intrincada de possibilidades timbrísticas. A Fender muda as configurações de ligações de captadores de acordo com o modelo da guitarra e/ou o ano de fabricação, portanto a configuração apresentada é a dos modelos Stratocasters SSS fabricados em 2006.
Customização
Apesar de ser uma guitarra perfeita até na cor, para o meu gosto, com o tempo e o uso intenso, o potenciômetro de volume S-1, o potenciômetro de tom 1 e a chave seletora começaram a falhar e resolvi aproveitar que ia ter que trocá-las para realizar algumas outras alterações e fazer a customização do instrumento.
Captador
1- Sentia falta de um pouco mais de ganho e corpo no captador da ponte. Após muito pesquisar, comprei um Pearly Gates da Seymour Duncan, um humbucker de baixo ganho e muita qualidade de timbre. O que comprei tem a capa dourada, apenas por estética, sem implicações no timbre.
Controle de volume
2- Eram interessantes as possibilidades de timbres do S-1? Sim, eram! Eu usava? NÃO! Porque eu queria a minha Strato com o tradicional som de Stratocaster. Se eu tivesse outras Stratos, até seria interessante ter uma com um som diferente, mais moderno, mas sendo a minha única neste modelo e marca, eu queria o tradicional. Então, resolvi que já ia ter que trocar o potenciômetro e optei por um da Seymour Duncan, modelo Yngwie J. Malmsteem de 500k de alta velocidade (Seymour Duncan YJM-500 Hi-Speed Volume Electric Guitar Pot 500k). Escolhi este porque queria ter facilidade em usar o potenciômetro de volume para efeitos de volume do tipo violino (volume swell).
Chave seletora de captadores
3- Com a falha a chave seletora eu teria que substituí-la. Como não ia instalar o S-1, pude encomendar uma chave seletora tradicional. Se resolvesse instalar o S-1 eu teria que comprar uma chave seletora específica para ele.
TBX e controles de tom
4- Como não uso os potenciômetros de tom, resolvi instalar um sistema Fender TBX para ampliar as possibilidades. O TBX tem um “clique” no 5 onde ele funciona como um tom no 10. Entre o 0 e o 5 ele atua da mesma forma que um controle de tom normal cortando frequências agudas. Ou seja, no 0 é como o tom totalmente fechado e no 5 é como um tom totalmente aberto. A partir do 5 ele aumenta gradativamente o grave e o agudo ao mesmo tempo até chegar no 10. Sendo assim, ele amplia as possibilidades tonais do instrumento pois há possibilidade de se cortar os agudos e de aumentar o grave e o agudo ao mesmo tempo. Saiba mais sobre o Fender TBX aqui!
5- Desliguei o potenciômetro de tom 2 por ser inútil para mim. Instalei o TBX atuando igualmente para os três captadores, dispensando o segundo controle de tom.
Por estética…
6- O escudo dela era do tipo “casco de tartaruga” e eu preferia que fosse branco. Não alteraria a guitarra apenas por este detalhe, mas aproveitei que ia ter que mexer e resolvi encomendar um escudo da cor branca. Procurei pela cor Aged White (branco envelhecido), mas não encontrei. Fiquei com o branco mesmo. E HSS, ou seja, Humbucker-Single-Single.
Após uma longa espera pelos produtos e taxas e mais taxas de correio e alfândega pude enfim realizar a tão sonhada customização uma vez que os componentes falhando já estavam irritando e me impossibilitando de usar esta guitarra em show e gravações.
Depois de algum tempo para realizar os encaixes e as soldas, tudo saiu dentro do previsto e percebi que foi ainda mais simples conectar os fios no potenciômetro YJM Seymour Duncan por se tratar de um modelo tradicional do que seria se eu resolvesse instalar um S-1 novo com a respectiva chave seletora.
Como ficou
Colocadas as cordas, era hora de ligar a guitarra. Minhas constatações foram:
1- Com relação ao Pearly Gates na ponte, o timbre teve, ao mesmo tempo, o ganho, timbre e corpo que eu queria e por ser de baixo ganho, não houve discrepância entre o volume dele e dos demais captadores.
2- Esteticamente o escudo branco tem mais a ver com o meu gosto.
3- O potenciômetro YJM High-Speed me proporcionou a facilidade para realizar os efeitos que tanto procurava e não conseguia com o S-1 por este ser mais rígido em seu curso. O YJM possui um lubrificante de baixa fricção que permite que ele tenha um curso mais leve e mais rápido.
4- A chave seletora de captadores tradicional é muito mais simples e prática de instalar.
5- O TBX ampliou as possibilidades tonais da guitarra. Ele é ainda mais efetivo em captadores ativos, especialmente nas frequências graves que ele aumenta, juntamente com as agudas a partir do 5. Como meus captadores são passivos, os graves não ficaram assim tão pronunciados, mas é perceptível, ainda que sutil, a alteração. Os agudos aumentam bastante e de forma satisfatória.
6- O segundo potenciômetro de tom não era necessário já que liguei o TBX para atuar nos três captadores, mas deixei-o lá, mesmo desligado, para não ficar um buraco no escudo.
Finalizando
Não tenho o menor medo em alterar a “originalidade” do modelo uma vez que é mais interessante ter um instrumento que lhe propicie tudo aquilo que você realmente espera dele. Afinal ter funções que são inúteis para você sendo que há outras muito mais interessantes é limitador.
Muitas alterações são um “tiro no escuro” e não se sabe se o resultado será como o esperado. Pesquisamos muito. Entretanto, arrepender-se, muitas vezes, é uma possibilidade. Mas como todo aprendizado, só se aprende testando e errar/arrepender faz parte do caminho. Eu prefiro arriscar, claro, com responsabilidade, mas é melhor do que ir dormir sabendo que algo poderia ser melhor.
Espero que este relato da customização tenha lhe sido útil.
Já customizou algum instrumento seu? Deixe nos comentários para que mais gente saiba e possa se inspirar. Melhor ainda se tiver algum vídeo no YouTube com você tocando no instrumento customizado ou fazendo a customização. Posta aí embaixo!
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