Sempre que toco em algum lugar ou posto uma foto ou vídeo na internet com destaque para meu amplificador Mesa/Boogie Mark IIB, muita gente fica curiosa para conhecer e entender do que se trata este amp vintage e raro hoje em dia. Através do número de série é possível conhecer a data de fabricação do amp. Os Mark IIB foram fabricados entre 1980 e 1983 e o meu é de 1981. (Clique aqui caso queira datar o seu amplificador)
Antes de falar sobre os Mark IIB, vamos entender um pouco sobre como o modelo evoluiu até chegar nele.
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Os primórdios
A mundialmente famosa Mesa/Boogie é uma empresa fundada por Randall Smith e iniciou com uma brincadeira, quando ele pegou um Fender Princeton de um amigo e o “envenenou” com um transformador maior e um circuito de um Fender Bassman. O Princeton originalmente tinha 12 watts e um alto-falante de 10’. Com esta alteração ele passou a ter mais potência, algo em torno de 60 watts. Randall também o adaptou para receber um alto-falante JBL D-120 de 12’, o mais “porrada” da época.
A história a seguir parece mentira, mas é contada pelo próprio Randall Smith no site original da Mesa/Boogie. Após terminar de montar este protótipo customizado do Princeton, ele o levou à frente da loja para um teste e adivinhe quem foi convidado fazer o teste naquele momento: Carlos Santana! Ao terminar de tocar ele se virou e disse: “Shit man. That little thing really Boogies!”, algo como “Caramba, cara! Esta pequena coisa realmente detona!”. O nome correu… Em pouco tempo, sua fama se espalhou pela Bay Area de San Francisco, fazendo com que Randall recebesse muitas encomendas daqueles Princeton/Boogies, nome dado batizado assim pela frase de Santana.
Este primeiro amp foi montado em 1969 e, devido ao sucesso, algumas centenas foram vendidas. Após saber o que Randall estava fazendo, a própria Fender cortou os suprimentos para ele, que então teve que montar a sua própria empresa, batizada de Mesa Engineering.
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Mark I
Com esta nova fase, Randall passou a desenvolver seus próprios projetos e com novas demandas ele criou um amp com um estágio de ganho extra e três controles variáveis de ganho em pontos diferentes do circuito criando o primeiro amplificador de alto ganho (hi-gain). Assim sendo, em 1972 o Mark I foi lançado, muito embora ele só tenha ganhado este nome após o lançamento do Mark II, começando a era dos Mark’s e da própria Mesa Engineering.
Os usuários mais célebres do Mark I foram Keith Richards e, claro, Carlos Santana. Seu som pode ser ouvido em incontáveis gravações de estúdio e shows, como por exemplo no álbum “Caravansarai” de Carlos Santana e o “Live at El Mocambo” dos Rolling Stones (Ron Wood também usou os Mark I).
É possível encontrar os primeiros Mark’s (incluindo os Mark I, II, III, etc…) com diversas configurações. Por exemplo: com ou sem reverb, com ou sem equalizadores gráficos e de 60 ou 100 watts.
O Mark I tem dois canais: entrada 1, de alto ganho, que produziu o desejado overdrive “Boogie” e a entrada 2, com o som do Fender Bassman.
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S.O.B – Son of Boogie
O S.O.B. foi uma evolução do Mark I, mas ainda não era considerado um Mark II. Eram chamados originalmente de “Boogie” até que a segunda versão, Mark II foi lançada. A diferença básica destes para os Mark I foi a introdução de mais um circuito extra de ganho. Ainda não havia a possibilidade de usar footswitch para trocar entre os canais (introduzido nos Mark II).
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Mark II
Mark IIA
Com fabricação entre em 1978 e 1980, apresentavam como novidade a possibilidade de trocar os canais via footswitch. Eram encontrados também como cabeçotes e não apenas em combo, possibilitando o uso com diversas configurações de falantes. (O nome Mark IIA só começou a ser usado após o lançamento do Mark IIB.).
O ganho de pré-amp dos Mark II acontecem após os controles de tom, o que impacta o timbre gerado.
O painel de controle foi ampliado para incluir um controle de volume master separado para o modo lead e vários switches push/pull que incrementam o ganho e as opções de equalização do timbre. O painel frontal possui: Volume, Treble, Bass, Middle, Master 1, Lead Drive e Lead Master. Os switches push/pull são “Pull Bright” no Volume, “Pull Shift” no Treble e, “Gain Boost” no Master 1, “Pull Lead” no Lead Drive e “Pull Bright” no Lead Master.
A entrada 1 foi renomeada apenas para “Input” e a entrada 2, do mesmo modo, foi alterada para “Foot Switch”. Apesar das boas inovações, muitas críticas reclamavam de um reverb ruidoso e por um estalo ao se acionar o footswitch. Portanto, assim nasceu uma melhoria no projeto, o que se tornou o Mark IIb.
Mark IIB
Fabricados entre 1980 e 1983, a grande diferença do Mark IIB é a introdução de um loop de efeitos. O Mark IIB foi o primeiro amplificador de guitarra com um loop de efeitos valvulado. Este loop foi colocado entre dois estágios críticos de ganho e eventualmente tendeu a distorcer alguns efeitos a partir de um determinado nível de volume. Também fez com que pedais de volume agissem como controles de ganho remotos para o modo lead (função esta que muitos adoram neste amp). A Mesa posteriormente implementou uma modificação que fez com que o loop de efeitos se tornasse mais transparente, e suavizou o canal principal, similar ao canal principal do IIC+.
Os problemas de ruído no reverb e de estalo do footswitch foram enfim resolvidos no Mark IIB.
Outra inovação importante foi a introdução do sistema “Simul-Class“. Nele duas das válvulas de potência (sempre 6L6s) funcionam no pentodo classe AB enquanto as outras duas válvulas (6L6s ou EL34s) funcionam no triodo classe A. Em um amplificador simul-class, as quatro válvulas entregam aproximadamente 75 watts RMS; executando apenas as válvulas da classe A produz cerca de 15 watts. Também estavam disponíveis Mark IIBs non-simul-class na versão de 60 watts bem como na versão de 100 watts, que permitiam a mudança para 60 watts, desligando um par de válvulas de potência. O volume é absurdamente alto! Segundo a própria empresa, o volume pode chegar a 200 watts RMS!
O painel frontal do Mark IIB é idêntico ao do IIA, mas o painel de controle traseiro foi alterado para acomodar os conectores FX Send e Return.
O Mark IIB é especialmente procurado por colecionadores pelo seu som limpo.
Clique aqui para baixar o manual do Mark IIB!
Depois…
Posteriormente foram lançados os Mark IIC e C+, (este o mais clássico de todos). O modelo evoluiu para os Mark III, IV e V. Os Mark V foram criados com as melhores características dos Mark I, IIC+ e IV. Mas não vou me estender nestes modelos já que o objetivo do texto é falar até os Mark IIB.
Xodó
O meu amp é um non-simul-class de 100w, com equalizador gráfico e sem reverb. Os modelos do Mark II diferem muito quando se trata das versões A, B, C e C+, ou seja, eles não soam tão parecidos uns com os outros quanto era de se esperar. O drive do Mark IIB soa mais como um fuzz do que como uma distorção. O som limpo dele é fantástico: quente, encorpado e com muito headroom, em síntese, isso significa que soam limpos mesmo em volumes absurdos!
O meu amp está com o falante original, um Electro-Voice EVM 12Lde 200w e 15’…um animal! Seu gabinete é feito de nogueira da Papua Nova Guiné e a tela tem estilo “cesto de trigo”. Estas características juntas chamam muito a atenção!
Nas válvulas de pré estão 3 Mullard 12ax7 mas a inversora de fase é uma Electro-Harmonix 12ax7. Nas de power estão 4 6l6 da própria Mesa/Boogie (com a logo dela, já que ela não fabrica válvulas).
Confira o som do amp através dos vídeos:
Drive de um pedal também valvulado
O famoso som limpo dele com um pouco de delay
Agradecimento ao grande amigo Rômulo Carvalho!